terça-feira, 1 de maio de 2012

Odeio casais apaixonados


 
Sempre gostei de romances, daqueles bem melosos. Quanto mais drama tivesse melhor! Já chorei em algumas cenas (várias) e até assistindo novela, confesso.
Durante a adolescência colecionei amores platônicos e também cultivei alguns na juventude. Aos dezesseis anos eu acreditava que podia conquistar qualquer pessoa com minhas palavras... Minha poética! E com isso, escrevia cartas intermináveis. Aos dezessete vivi meu primeiro amor. Começou nas férias de verão e o que parecia insólito e improvável, parafraseou-se em uma bela história de amor... Como morávamos longe, trocávamos cartas.
Elas vinham repletas de juras de paixão eterna. Chegamos a trocar três, quatro cartas por semana. Era quase como um ritual. Eu escrevia a noite e borrifava gotas do meu perfume que ele gostava. Por sua vez, J. me enviava as suas com pétalas de flores e desenhos. Ficamos assim por seis meses até o tão esperado reencontro.
Recordo-me da ansiedade com que esperava o correio passar na minha rua, uma rua sem saída e da felicidade que se instaurava em mim ao ler o que ele me escrevia.
Já se passaram sete anos desde que isso tudo aconteceu, mas carrego nossa pasta de cartas intacta. É um tesouro perdido... Histórias como essa não existem mais.
Com pesar admito que nós dois não somos mais os mesmos. A pureza daquele amor perdeu-se no caminho e os jovens idealistas e sonhadores tornaram-se frios e, diria, incrédulos.
Onde foi parar o romantismo?
Como, enfaticamente, dizia uma amiga minha, anos atrás:

- Odeio casais apaixonados!

Quase começávamos um duelo de argumentos e um debate teórico metodológico sobre a afirmativa, mas hoje eu entendo sua colocação. Hoje eu entendo!
Eu sinto falta daquela sonhadora aos dezessete anos. Não vou dizer que não sonho mais, porém, preciso confessar que minhas prioridades são outras. Não sei mais se acredito em um amor genuíno, acho que no fundo cansei de procurar.
Minhas palavras se acumularam em cartas, cadernos de poesias e blogs... Em livros interminados e poética mal resolvida. Mas não, eu não posso mais conquistar com minhas palavras, elas não carregam a sedução mítica das sereias como eu supunha na adolescência.
A utopia enfim, se findou.
Nos percalços da vida, nos amores perdidos, no vazio da solidão...
A utopia enfim, se findou!
Mas nossas cartas estão guardadas, quase vivas, para me lembrar de que um dia, mesmo que há muito tempo, eu flutuei com pés no chão e acreditei, sem medo, no amor de verdade.