quarta-feira, 28 de março de 2012

Entre co(r)pos e cacos!


A noite já não era mais a mesma. Tudo parecia sempre igual.
Como se todos fossem cúmplices. Cúmplices de um mesmo crime, a favor de pecado. Pensamentos libidinosos estampavam o olhar dos leopardos noturnos, homens e mulheres a espreita de uma presa, qualquer uma.
O desejo de possuir um corpo macio para aplacar o vazio de sua cama... O vazio de suas vidas, aparentemente, perfeitas. Um corpo cálido para chamar de seu, mesmo que só por algumas horas,  por alguns instantes... Pela madrugada cortante.
O fato em si é que, no emaranhado da noite, não era possível dissecar o real do imaginário. Um labirinto de nomes falsos, maquiagem e cabelos impecáveis, um sorriso quase que automático. Por vezes, era como se todos se parecessem, como se fossem cópias de um modelo ‘ideal’. Ideal para ter, ideal para desejar, ideal para continuar a querer ser igual, noite após noite... Num eterno embate consigo mesma e sempre sozinha.
A noite já não era mais a mesma, entre co(r)pos e cacos, tudo parecia sempre igual.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Risíveis


Caminhava por calçadas escuras no meio da noite. Olhava o mar da Rua da Praia com pensamentos vazios, entre lírios, becos e medo.
Alguém está me olhando.
Ainda me pertenço?
Eu tatuo meus segredos na carne viva e aos outros eles parecem totalmente invisíveis.
Naquela noite desejei me decompor. Meu corpo não me pertencia mais, precisava de não senti-lo. Nas vielas daquela avenida, entre prostitutas e o vapor do asfalto, percebi que eu não me encontrava, onde quer que estivesse.
O álcool exalava da minha pele e perdia-se no rastro de perfume deixado pelos peixes e pelo sexo. Fechei os olhos e pude sentir um aroma de almíscar se perdendo entre um carro e outro. Eu não me importava.
Eu precisava não lembrar, não sentir, nunca mais. Um nó na garganta e duas deduções de que não vamos mais continuar juntos... Uma pressão nos olhos. ‘Não vou chorar!’ – Tento me convencer.
Vou vender meu corpo para que ele não me pertença mais. Tenho vontade de desaparecer. Mundo... Vozes... Acasos... Você!
Ouço o barulho do mar, mas não consigo ver a Lua. A noite não me convidava para brindar a vida. O vento é cortante, meu corpo inteiro treme. Parece ser o fim inevitável de tudo, e eu até desejo que seja. Mas não é. Labirinto de cicatrizes invisíveis, que permeiam o corpo todo.
Perdida em um asfalto de corpos sem amores. No absurdo da sua ausência, me encontro dentro do meu caos e beiro a insanidade, num abismo corrompido.
Oito cigarros soltos, uma calçada torta e uma esquina muito fria. 
Eu, a noite e um arrepio.

terça-feira, 20 de março de 2012

Ausente


Deitada, na penumbra do quarto, sinalizo meu corpo em frente ao espelho, refletido em meus pensamentos, por um instante posso afirmar que vi teu rosto.
Em sonho, tua boca cálida mais que presente desfazendo a saudade, dúvidas, receios. 

Deitada, no opaco da noite, deslizo minha mão sobre essa pele que ainda é tua, sobre esse desejo que ainda é seu... E, sôfrega, te vejo na minha tela.
Em prantos, me vejo só e nua. Mais uma vez!
Ouço tua voz rouca e suave dizendo: "Eu te amo", mas nada eu posso mais.
Deitada, perdida em lembranças, releio mentalmente cartas, palavras, sorrisos... Resumo de paixão consagrada a um amor que não viverei mais.
Eu te amo! Meu grito é o eco, oco, só!
Desconexo e infinito.

Essa noite, não mais! Quero esquecer o mundo e me agarrar a mais nua ideia,
enquanto ensaio esses mal traçados versos, nas paredes de um quarto em que você não está!
Não mais...