Caminhava por calçadas escuras no meio da noite. Olhava o mar da Rua da Praia com pensamentos vazios, entre lírios, becos e medo.
Alguém está me olhando.
Ainda me pertenço?
Eu tatuo meus segredos na carne viva e aos outros eles parecem totalmente invisíveis.
Naquela noite desejei me decompor. Meu corpo não me pertencia mais, precisava de não senti-lo. Nas vielas daquela avenida, entre prostitutas e o vapor do asfalto, percebi que eu não me encontrava, onde quer que estivesse.
O álcool exalava da minha pele e perdia-se no rastro de perfume deixado pelos peixes e pelo sexo. Fechei os olhos e pude sentir um aroma de almíscar se perdendo entre um carro e outro. Eu não me importava.
Eu precisava não lembrar, não sentir, nunca mais. Um nó na garganta e duas deduções de que não vamos mais continuar juntos... Uma pressão nos olhos. ‘Não vou chorar!’ – Tento me convencer.
Vou vender meu corpo para que ele não me pertença mais. Tenho vontade de desaparecer. Mundo... Vozes... Acasos... Você!
Ouço o barulho do mar, mas não consigo ver a Lua. A noite não me convidava para brindar a vida. O vento é cortante, meu corpo inteiro treme. Parece ser o fim inevitável de tudo, e eu até desejo que seja. Mas não é. Labirinto de cicatrizes invisíveis, que permeiam o corpo todo.
Perdida em um asfalto de corpos sem amores. No absurdo da sua ausência, me encontro dentro do meu caos e beiro a insanidade, num abismo corrompido.
Oito cigarros soltos, uma calçada torta e uma esquina muito fria.
Eu, a noite e um arrepio.
2 comentários:
Lindaaaaa! Muito bom.=D
Que bom que gostou!!!
Seja sempre bem vinda!
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