terça-feira, 22 de novembro de 2011

Entrelinhas


Abri os olhos devagar. Os olhos vindos de minha própria escuridão nada viram na desmaiada luz da manhã. Fiquei respirando. Lentamente recomecei a enxergar, após poucos minutos as formas foram se solidificando, eu cansada, esmagada pela doçura de um cansaço. Aos poucos ia retomando os fatos da noite que se passou. Flashes inundavam minha mente inquieta e minha sede tornava-se voraz. Reviro-me na cama e nos lençóis, sinto garganta seca e agora um frio na barriga sobe de encontro a minha boca, com um gosto amargo de fel.
A claridade aos poucos cruzou os vidros da janela, atravessou a cortina e jogou-se sobre o lençol. Pude sentir sua carícia quente como uma mão masculina. Pouco depois, um galo cantou solitário em algum quintal distante, amanhecia.
Reviro-me mais uma vez e percebo que não estou sozinha. Tomo-me de assusto quando percebo o que havera feito. A festa realmente deve ter sido muito boa, acordei ao lado de um completo desconhecido.
Sinto uma leve dor de cabeça e um sabor acre nos lábios. Um aroma de álcool exala da minha pele. 
O olho por alguns instantes, desenho seus traços e quase o toco. Mas retrocedo.
Ele dorme e parece sorrir (...)

(Continua)

Ps. O conto ainda está inacabado, mas é uma homenagem a alguém especial. 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Reencontro (Trecho do meu livro)



Adormeci sem perceber e acordei com seus olhos doces a me fitar. Ele sorriu e pareceu satisfeito em dizer:

- Olha só... Ela dorme! Pensei que era uma vampira. 
E continuou sorrindo.
O dia estava nublado, e as nuvens mostravam que logo iria chover. Eu até senti frio. Ele me levou até em casa, mas não queríamos nos despedir. Ele tinha que ir, eu sabia, mas ficamos enrolando dentro do carro e achamos graça disso.
Ao sair do carro, nos olhamos de forma terna. Era tão difícil ter que deixá-lo. O feriado já estava acabando e nossa despedida seria inevitável.
Em breve acordaríamos de nosso ‘Sonho de uma noite de verão’ e Shakespeare não nos pouparia no final. A eterna fantasia de um pra sempre que logo acabaria.
- Tudo fora perfeito! Eu pensava, enquanto caminhava até a porta da casa da Gi. A cada passo fui olhando para trás, seus olhos sobre mim. Foi a ultima imagem que tive dele naquele feriado. A despedida final não foi no dia seguinte, ela fora agora. Mas ainda não sabíamos.
Entrei em casa e não consegui pregar os olhos. Fiquei rolando na cama, sentindo uma falta... Uma saudade! Como seria dali pra frente?
Eu não consegui dormir.
Ao ouvir barulho na cozinha, levantei. Dei Bom dia pra Gi e fui tomar um banho. A água quente percorreu meu corpo estático. Sentei-me no chão e chorei. Estava triste por ter que deixá-lo em breve. O pensamento que insistia em me perseguir e a ansiedade inquietante me torturavam.
Troquei de roupa e tomei café com meu casal de melhores amigos. Eu os observava e não cansava de constatar o quanto eles  me faziam falta. Eu também os amava.
Fumei meu maço inteiro de cigarro naquele dia. Estava aflita, e a chuva me deixava ainda mais tensa. Eu não gosto de chuva, de nada que é frio e gelado. O sol já se punha há horas, e o MEU sol já estava distante de mim.
Nossa despedida soou através de um telefone celular, numa distância que parecia enorme e me deixou angustiada. Eu estava muito triste.
Desde que chegara, praticamente não havia dormido, mas naquela noite, a chuva caía lá fora e as lágrimas molhavam meu rosto. Deitei bastante cedo, mas não conseguia dormir. Eu precisava ficar sozinha, Gi também ficou chateada e triste por me ver naquele estado. Ela chorou junto comigo, parecia compreender minha dor.
Não havia mais o que ser feito.
O sono acabou me vencendo pelo cansaço, e quando dei por mim lá se ia o nosso sábado.
Tive uma noite despovoada de sonhos, apenas vazia, sem a presença viva do B. ao meu lado naquela cama. O espaço parecia se estender por quilômetros e eu me perdia no vazio que ele deixara dentro de mim.
Acordei exausta. Emocionalmente exausta. O cansaço de todas as noites acumulado com a tristeza e a saudade, que já eram enormes.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Desencontro


'Sobrou desse nosso desencontro
Um conto de amor sem ponto final.'
(Chico Buarque)

...

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Confissões de uma amante I

Tantos meses sem vir aqui... O ano findou e cá estou eu mais uma vez... 
Agora consigo estar de volta, já não dói tanto como antes!
Feliz 2011 à todos!
Mais uma vez inspirada e de volta ao refúgio da lua.Dedico essa postagem ao meu mais novo amigo e confidente: João love. Obrigada!
Bjos ardentes,

Lilith!


Confissões de uma amante - Parte I


Desejava com todas as minhas forças odiar aquele rosto, esquecer seus carinhos censuráveis, arrancar de minha pele a sensibilidade para não sentir prazer no seu toque poderoso. De todas as formas gostava dele e me culpava, torturava-me por isso. Era vergonhoso admitir tal prazer.

Nos sonhos ele teimava em reinar, fulgurar descaradamente me fazendo desejá-lo cada vez mais. Se ele pelo menos soubesse...
Hoje achei que fosse morrer de tanta saudade, não resisti e acabei cedendo ao desejo do meu celular de ligar para ele. Depois de prometer milhares de vezes e tentar odiar pra apaziguar a falta que 'Ele' faz a cada dia, eu acabei discando os números que me levariam direto aquela voz rouca. É como um vício, algo tão forte quanto heroína ou crack, e eu que me internei na reabilitação tento viver um dia após o outro, resistindo os chamados de minha paixão pelo B. Tento pensar em coisas que ele fez e que me magoaram... Que me deixaram tristes ou que sou sempre eu quem toma a iniciativa, mas quando o anseio ressurge não há memória ruim que aplaque, o pensamento já não funciona e todo o meu corpo se move com um único objetivo: tentar estar, mais uma vez, perto dele.
O telefone chama uma, duas, três vezes. Acho que ele não vai atender e penso em desistir, mas não sei por qual motivo eu não descarto a ligação. Continuo, insisto... Como um viciado em busca de sua matéria prima e ele enfim atende.


-Alô.


Sua voz ecoa ao entrar em meus ouvidos e percorrer todo o meu sistema nervoso. Pronto! 
O êxtase começa a surgir, o frenesi do reencontro com a droga, com a MINHA droga,  feita especialmente para mim.

Meu corpo não se acalma, pelo contrário, entrar em torpor e anseia por mais. Fico tensa, como jamais fiquei com nenhuma outra pessoa, quase perco a fala.


- Oi. Digo, timidamente. - Tudo bem?


-Tudo, e você? Ele retribui.


- Só liguei pra saber como você está.


Que idiota eu sou! A vontade que tenho é de dizer que eu o amo, que ele me faz muita falta e que estou morrendo de saudade, mas as palavras permanecem presas na minha garganta e simplesmente não saem. Sinto-me ainda mais idiota e antes mesmo de desligar me arrependo de ter ligado. Que raiva!

Por que não fui mais forte do que a vontade? Vontade dá e passa, por que não a esperei passar?

A conversa flui descompromissadamente, conto alguns planos pro ano que vai iniciar, falo sobre meu trabalho de conclusão da faculdade e do meu emprego novo. Ele mostra interesse e diz estar feliz por mim. Me deseja boa sorte e sucesso, quase como uma despedida. Agora sim, estou ainda mais triste do que antes de ligar.


Não, ele não disse que sentiu minha falta e nem que está com saudade. 
Me sinto uma boba e não consigo explicar pra mim mesma o porquê de ainda estar apaixonada por ele. Agora não somos mais nada. Não somos amigos, nem amantes, nem “futuros” alguma coisa, eu o perdi e sinto que não o terei de volta. Enquanto escrevo estas palavras a 'Vontade' está bem aqui, sentada ao meu lado e me fazendo olhar para o celular em cima da cama.
Não! Eu não vou ligar.
Mas a pergunta que permanece é:

Quanto tempo mais eu ainda vou resistir?
Quando terei outra recaída?

Prazer, meu nome é Lilith, e estou há um dia sem ligar para o B.


Mais um dia...

(...)