Sempre gostei
de romances, daqueles bem melosos. Quanto mais drama tivesse melhor! Já chorei
em algumas cenas (várias) e até assistindo novela, confesso.
Durante a
adolescência colecionei amores platônicos e também cultivei alguns na
juventude. Aos dezesseis anos eu acreditava que podia conquistar qualquer
pessoa com minhas palavras... Minha poética! E com isso, escrevia cartas
intermináveis. Aos dezessete vivi meu primeiro amor. Começou nas férias de
verão e o que parecia insólito e improvável, parafraseou-se em uma bela
história de amor... Como morávamos longe, trocávamos cartas.
Elas vinham
repletas de juras de paixão eterna. Chegamos a trocar três, quatro cartas por
semana. Era quase como um ritual. Eu escrevia a noite e borrifava gotas do meu
perfume que ele gostava. Por sua vez, J. me enviava as suas com pétalas de
flores e desenhos. Ficamos assim por seis meses até o tão esperado reencontro.
Recordo-me da
ansiedade com que esperava o correio passar na minha rua, uma rua sem saída e
da felicidade que se instaurava em mim ao ler o que ele me escrevia.
Já se passaram
sete anos desde que isso tudo aconteceu, mas carrego nossa pasta de cartas
intacta. É um tesouro perdido... Histórias como essa não existem mais.
Com pesar
admito que nós dois não somos mais os mesmos. A pureza daquele amor perdeu-se
no caminho e os jovens idealistas e sonhadores tornaram-se frios e, diria,
incrédulos.
Onde foi parar o romantismo?
Como,
enfaticamente, dizia uma amiga minha, anos atrás:
- Odeio casais
apaixonados!
Quase começávamos
um duelo de argumentos e um debate teórico metodológico sobre a afirmativa, mas
hoje eu entendo sua colocação. Hoje eu entendo!
Eu sinto falta
daquela sonhadora aos dezessete anos. Não vou dizer que não sonho mais, porém,
preciso confessar que minhas prioridades são outras. Não sei mais se acredito
em um amor genuíno, acho que no fundo cansei de procurar.
Minhas palavras
se acumularam em cartas, cadernos de poesias e blogs... Em livros interminados
e poética mal resolvida. Mas não, eu não posso mais conquistar com minhas palavras,
elas não carregam a sedução mítica das sereias como eu supunha na adolescência.
A utopia enfim,
se findou.
Nos percalços
da vida, nos amores perdidos, no vazio da solidão...
A utopia enfim,
se findou!
Mas nossas cartas
estão guardadas, quase vivas, para me lembrar de que um dia, mesmo que há muito
tempo, eu flutuei com pés no chão e acreditei, sem medo, no amor de verdade.